Nos sábados à tarde, fui agraciada neste semestre com um grupo maravilhoso de alunos interessados em atingir o máximo da fluência em inglês através de singelos, mas não menos profundos, bate-papos. Sim, sou uma advogada atuante há muitos anos, mas nunca abandonei totalmente o meu amor pelo inglês e por seu ensino, o que me fez criar algumas ginásticas para conciliar a vida forense com a magia de levar pessoas ao domínio de uma língua tão básica quanto fascinante. Enquanto seres normais planejam um fim de semana entregue ao refestelamento em praias e atividades afins, o meu sábado , por exemplo, é dedicado à English school, o que às vezes me rende problemas nas confraternizações familiares e de amigos e até nos jogos do América. Mas fazer o que, né? Paixão é paixão e enquanto o fôlego (já nem tão rapidamente renovável como antes) permitir, levarei com gosto essa personalidade multitarefa, que ainda acumula a mania de publicar coisas por aqui, o gosto por inventar na cozinha, a afeição por corridas com planilhas matinais, e que quase me matou de estafa na época em que resolvi acumular tudo isso com uma especialização na UFRN e o papel de professora substituta da Prática Jurídica da mesma instituição - o que também significava acumular as audiências de lá. Sobrevivi com louvor em tudo (sim, a monografia recebeu 10, meus alunos não ficaram um dia sem aula e meus clientes ficaram alegres com o resultado dos litígios). Só não tinha um blog ainda. O lado social, como sempre, foi o mais afetado. Neste aspecto, acho que já estou beirando os 80 anos.
Mas voltemos ao que quero falar. No bate-papo desta semana, provoquei meus alunos com a seguinte pergunta (em inglês, lógico!): como você definiria a felicidade?
Fomos e voltamos e o tal conceito deu muito trabalho. É que normalmente percebemos se somos felizes ou não. Melhor, se estamos felizes ou não. Concordamos que o conceito poderia vir de um balanço de tudo que se sente na vida. Se sentir felicidade superar sentir tristeza, raiva, angústia, etc., eis uma vida feliz.
Aí me lembrei de um professor ainda da época de escola da minha irmã que disse que felicidade não existe, mas sim momentos felizes. Será?
De fato, nos contos de fada, após muito sofrimento, a estória acaba justamente com "e foram felizes para sempre". Isso termina criando em nós uma expectativa de felicidade sem percalços, contínua. A felicidade seria então, parafraseando o professor, um momento feliz que se faria eterno.
A abstração da felicidade nos impede de conceituá-la sem recorrermos a exemplos concretos. São estes que nos permitem identificar se estamos diante da felicidade ou não. Todos temos momentos ruins, mas são as coisas simples que nos permitem um diagnóstico.
No meu caso, encontro a felicidade diariamente. Quando me entrego a divagações filosóficas. Quando leio, qualquer que seja o escrito. Quando como algo gostoso. Quando ouço música de que gosto, como jazz. Quando exerço meus ofícios exatamente como desejo. Quando convivo com quem me completa, me questiona e me leva a novos limites (e posso dizer isso da minha família e dos selecionados amigos). Quando me sento para tomar um café ou entro numa livraria só para paquerar com os livros.
Os desencontros também acontecem mas são menos frequentes e, normalmente, pedagógicos. Algo me faz infeliz? Procuro cortar da minha vida ou pelo menos administrá-lo sob outra perspectiva. Afinal, não estamos livres de doenças ou de pessoas que nos fazem adoecer. Porém, a forma de lidar com isso faz toda a diferença.
Felicidade é sim um balanço. É o positivo que sobressai. É o silêncio do domingo de manhã quebrado apenas pela força do vento. É o começar tudo de novo com a sensação de que estamos mais fortes porque mais sábios. É poder discutir as grandes questões desta vida envolvidos pelo fascínio que desta emana. Essencialmente, ser feliz é gostar da felicidade e procurá-la (e encontrar!) nas menores coisas.
Olhe ao seu redor. A felicidade está à sua espreita. Encontrá-la diariamente é o melhor exercício para conceituá-la.