As redes sociais trouxeram o que Andy Warhol previra: todo mundo tem os seus 15 minutos de fama. Entretanto, lidar com toda essa publicidade requer muito traquejo. Uma palavra mal colocada e reputações desmoronam na mesma velocidade.
Fala-se e escreve-se muito sem pensar. Depois, não há mais volta. Exatamente como aprendemos no Direito, danos morais (sejam a si próprio ou a outros) são como penas de um travesseiro rasgado num topo de um prédio. Nunca mais todas serão recolhidas. Não há mais volta ao estado anterior.
O futebol já vive essa realidade há muito tempo. A superexposição a que estão sujeitos principalmente os jogadores ameaça suas carreiras diuturnamente. Uma frase mal interpretada pelo passional mundo futebolístico pode levar um indivíduo do céu ao inferno na velocidade de uma montanha-russa. Daí hoje empresários mais antenados já prepararem seus pupilos com media training - basicamente uma forma de construir e manter uma imagem longe de polêmicas.
Este texto bem que poderia se aplicar à burrada de Flávio Boaventura ao enviar uma foto a um amigo malhando o rebaixamento de seu time. O tal amigo se chateou tanto que deu publicidade a ela e... cabum! Flávio passou e ainda passa por maus bocados por isso.
Mas na verdade quero me posicionar a respeito da tão falada entrevista de Arthur Maia ao Sportv News (clique aqui). Arthur ia bem até se referir ao clube de onde veio (seria o América ou o Vitória?) como de "menor expressão e desconhecido por muitos". Assumindo que o jogador se referia ao América, não poderia ele ter sido mais infeliz. Explico.
Ao contrário do que se possa imaginar, não foi o fato de afirmar que o América seria um clube de menor expressão que mostrou um discurso de poucos recursos, impensado mesmo, de Arthur Maia. Ora, só um louco hoje comparando o América ao Flamengo não constataria que o centenário clube potiguar tem menor expressão que o clube carioca, xodó da maior rede de comunicações do país.
O problema para Arthur foi ter se mostrado um jogador que não acompanha jornal, TV, revista, rádio, internet... Ou pelo menos não acompanhou no último ano. De 1997 para cá, o América tornou-se referência no futebol nordestino por inúmeros feitos. Mas talvez ele não tivesse idade para acompanhar tais feitos. Fiquemos em 2014, então. O gol que ele marcou contra o Globo ocorreu em jogo do estadual com transmissão nacional ao vivo e em HD para todo o Brasil pelo Esporte Interativo e para o mundo inteiro com o EI Plus. A repercussão também foi mundial. Arthur foi então comparado a Messi e apelidado Maiadona por veículos de comunicação do mundo inteiro. Como dizer que um clube desses é desconhecido por muitos? Como ele conseguiria tanta repercussão?
Nem gostaria, mas cito exemplo de minhas viagens para mostrar o quanto o América é conhecido. Em Gramado-RS em 2012, ao ver minha camisa vermelha, um são paulino da gema correu para me aporrinhar ante a freguesia de meu time em relação ao dele. No ano passado mesmo, num parque da Universal nos Estados Unidos, um grupo comentou com o meu que sabia que éramos de Natal por causa de minha camisa do América.
OK. Essas são constatações menores das quais Arthur Maia jamais tomaria conhecimento. Mas o que dizer da humilhação imposta ao Fluminense de Fred e Conca em pleno Maracanã em 2014? Se existia alguém ainda alienado no Brasil que não conhecesse o América de Natal, ali tomou conhecimento e, mais, torceu fervorosamente pelo time de menor expressão que deu uma aula de futebol, com raça e determinação. Sonoros 5x2 apresentaram o América aos desavisados. Ah, lembrei: Arthur Maia não estava em campo. Para variar, estava em tratamento no Departamento Médico. E como aparentemente ele não assiste TV, não lê jornal ou revista, nem acessa a internet, não tem ideia da repercussão que isso teve.
A entrevista dele apenas mostrou o quanto aquele elenco do ano passado era unido, a ponto de ele achar que um feito daquele, só porque não teve sua participação, não daria notoriedade ao clube.
Arthur, Arthur... Siga meu conselho. Além de se antenar com o que acontece ao seu redor, vá fazer media training urgentemente! Já bastam as contusões a ameaçar sua carreira. Dar uma de peixe e morrer pela boca pode ser fatal para ela. Ainda mais num clube de tanta expressão como o Flamengo, né?