Do ano passado para cá, acumulei alguma experiência em festivais, aqueles shows com um número até elevado de apresentações ao longo de sua programação.
Eu já poderia ter escrito este texto bem antes. Ainda bem que não o fiz porque agora posso escrever sobre as últimas péssimas experiências, o que inclui o Ribeira Boêmia de ontem.
Uma primeira experiência ruim, mas não para mim, foi o La Folie (Pavilhão externo do Centro de Convenções de Recife). Para mim, o ruim foi deixar o carro no estacionamento do Centro de Convenções e ter que dar uma volta praticamente no quarteirão para acessar os shows. Escapei de um assalto na volta pela alma bondosa de um vigilante de uma obra pública que nos impediu de seguir caminho a pé. Peguei um táxi para dar a volta no quarteirão e chegar ao carro.
Dentro do local, tudo absolutamente tranquilo. Uma maravilhosa seleção de artistas, bares e quiosques sem qualquer fila e banheiros químicos cheirosos (sim, cheirosos! Havia uma equipe para aplicar detergentes de tempos em tempos.).
Péssimo mesmo foi para quem comprou a pista premium. Como deu pouca gente, resolveram misturar as pistas e esse pessoal começou o show entrando numa fila para reclamar e receber devolução de parte do dinheiro. Eu ainda tive mais sorte. Peguei uma promoção de Black Friday e comprei ingresso para a pista pobre quase a preço de jogo, o que deve ter sido outra dor de cabeça chatíssima para quem comprou em lotes antecipados.
A segunda experiência ruim foi o Bloquíssimo (Arena das Dunas em Natal). A seleção de artistas ficou parecendo samba de uma nota só. Único destaque foi Pabllo Vittar. Não posso falar sobre o show de Aline Rosa, que também deve ter sido diferente, porque vim embora por causa de uma chuva forte que caiu já no fim do show de Pabllo. O resto era uma coisa só.
Também ruim foi a (pouca) quantidade de bares, que causava filas enormes, desorganizadas. Não consumimos coisa alguma lá dentro. Quer dizer, havia uns senhores vendendo pipoca, e isso foi a nossa salvação.
E a sujeira foi a nota, viu? Não havia uma lixeira para que depositássemos o que queríamos descartar. Com pouco tempo, alguns espaços de convivência viraram uma verdadeira pocilga.
A terceira experiência ruim foi o BB Tamo Junto. O Procon deu de ombros para a obrigação de adquirir um cartão para consumir lá dentro e que não permitia reembolso da quantia não utilizada sem que você fosse obrigado a pagar R$ 15. Muita gente nem sabia que o cartão funcionava assim.
Adquirir esse cartão era outro inferno. Filas e mais filas e um sinal impossível para completar a transação. Pareciam não saber que a Arena das Dunas tem uma das piores experiências em sinal de telefonia.
Ou seja, não bastassem as filas dos bares e quiosques, inventaram uma fila para poder começar a consumir.
E para entrar? Deram uma pulseira. "Vão permitir entrada e saída", pensei. Que nada! Na hora de sair, ficou todo mundo encurralado tendo que romper uma pulseira absolutamente sem futuro porque não era possível sair com a pulseira. E para que colocar uma pulseira na entrada? Ridículo!
Para fechar as experiências ruins, a pior experiência de todas: o Ribeira Boêmia (Arena das Dunas em Natal). Uma multidão queria ver o show de Alcione, que era o segundo ou o terceiro, marcado para as 19h. Não adiantou muito chegar mais de meia hora antes. Simplesmente não havia qualquer organização das filas (que filas?!). Economizaram para não colocar grades nem pessoas para orientar em que ponto deveria começar uma fila. A aglomeração que não andava e ainda era insuportavelmente quente produziu em mim um pânico (fruto de experiências anteriores deste tipo) que acabou qualquer possibilidade de eu me divertir lá dentro.
Só para se ter uma ideia, a gente só sabia por onde deveria passar homem/mulher para revista já na sua própria vez na fila, tamanha era a desorganização. Eu tive que trocar com um rapaz da outra fila, num aperto desgraçado, típico de ônibus lotado em época de greve. Um desrespeito para um local que já recebeu mais de 42 mil pessoas para jogos da Copa do Mundo de futebol masculino sem qualquer atropelo nem de longe parecido com aquele quase esmagamento de pessoas.
Quando a gente entrava na Arena, mais um exemplo do descaso ou da burrice mesmo de quem planeja: a entrada era colada com o pé do palco, o famoso gargarejo, local sempre lotado por fãs que não arredam o pé. Era praticamente impossível entrar. Imagine o aperto de passar por ali com a diva Alcione já no palco (sim, o terror externo colocou quase todo mundo para ver apenas parte do melhor show da noite). A alternativa era se enfiar pelas filas grandes dos bares e quiosques de alimentação.
O resultado para mim foi suor intenso, taquicardia/palpitação que não queria ceder e um medo enorme de ter uma piora na crise de asma por ali e nem ter atendimento médico (para chegar até o posto, era preciso sofrer o risco de esmagamento de atravessar as frentes de palco entupidas de gente de um lado a outro). Ainda inventaram umas grades da Unimed para imprensar mais que já estava imprensado por terem colocado um público grande para ocupar só metade do gramado da Arena das Dunas. Segurei a crise de choro. Quem viu deve ter imaginado que eu estava emocionada em ouvir Alcione. Antes fosse...
Vendo meu estado, Janaina terminou me convencendo a enfrentar a multidão no pequeno espaço que nos separava do setor oeste para acessar as cadeiras das arquibancadas. Relutei, pelo medo do esmagamento, mas fui. Ainda bem. Só aí, depois de um bom tempo sentada e de vento, pude experimentar algo de longe parecido com tranquilidade perto da terrível experiência.
Também não vi uma lixeira por lá para recolher meus descartes. Se nem lugar direito para o povo tinha, imagine para um cesto de lixo!
Uma amiga depois chegou dizendo que não iria mais beber porque não havia condições de ir ao banheiro, que ficava ao lado do posto de atendimento médico (40 minutos de percurso!). Janaina levou um copo térmico que terminou sem uso. Serviu apenas para a garrafa d'água que levei de casa. Nada mais eu consumiria ali, já que só sairia de onde estava para ir embora. Um pavor que não pretendo repetir jamais!
Saí ainda no show de Diogo Nogueira com medo do atropelo no final.
Se posso deixar um conselho a esse povo que (des)organiza esses festivais, digo que vão aprender com a galera do Mada, que é na Arena das Dunas, e até do DoSol, que é na rua ou em locais menores. Nunca passei aperto para entrar, nem para comprar nada, nem para ir ao banheiro. Entro, consumo, vejo os shows (variados) e saio na maior tranquilidade e com lixeiras para acolher meu lixo.
Não esperem que aconteça algo mais grave ou que as pessoas comecem a recorrer à justiça para restaurar o mínimo de dignidade, porque esse pode ser um caminho sem volta e pesado juridicamente falando.