domingo, 1 de dezembro de 2019

Viajando no tempo

Minha declaração de amor por Natal é diária. Acordo e sinto vontade de abraçar este paraíso que Deus me deu para morar. 

Dá para imaginar o quanto meu sangue ferve ao ouvir o prefeito daqui, presente do anterior, dizer que a nossa orla é feia? Pode ser descuidada porque autoridades como ele não cuidam dela como se fosse sua casa - talvez nem seja mesmo - porém, uma obra esculpida pela natureza com carinho e devoção só pode ser feia para olhos que se  contentam em repousar em cimento e concreto armado.

Não é disso que quero falar. Quero falar da Caminhada Histórica de Natal, evento que satisfaz a mim como quando sentava para ouvir as histórias de minha avó e meu avô, este bem mais conversador. Sempre que posso, participo. Igualzinho às histórias de vovó e vovô, eu já conheço quase tudo, mas é tão bom ouvir tudo de novo! Há sempre um detalhe novo a cada vez que ouvimos e isso é magnífico.

Ontem consegui me fazer presente. Deixo o carro na Ribeira, subo a velha Junqueira Aires a pé, relembrando os tempos de estágio voluntário na OAB e de musculação no Sesc. Ou das muitas idas à Secretaria de Tributação ou ao cartório. Dos ônibus que peguei na parada metropolitana. Dos passeios com meu pai por aquela região do Beco da Lama para comprar galetos e frutas e verduras nas primeiras horas da manhã.

A Praça André de Albuquerque eu reencontro quase sempre que preciso comparecer ao TJRN, o que vem sendo menos frequente nestes tempos de processo virtual. Descobri que quase não há mais assentos nos bancos e que uma reforma parece estar em andamento pela presença de tapumes de alumínio ao seu redor. 

Na caminhada de ontem, descobri também que ela, a praça, já tem 131 anos de existência como a vemos. Quantos casais de namorados não se conheceram por ali, hein? Em 131 anos cabem umas quatro gerações. Nunca perguntei aos meus avós se eles passeavam no tempo de namoro, até porque meu avô no dia que teve coragem de falar com minha avó já foi logo lhe pedindo em casamento. Disse a ela que a namorava pelas costas - ela não sabia - e que queria casar com ela. Se ela quisesse casar com ele, o pai dela podia aceitar ou não que ele casava do mesmo jeito. Sergipano atrevido, ele ganhou na hora o coração da taurina discreta, que o mandou aparecer para jantar com sua família para tratar daquele assunto.

Eles se conheceram no trabalho na rede ferroviária. Tirei fotos de lá com muito orgulho. 

Ali na Ribeira também meu pai começou sua bem sucedida oficina de máquinas de escrever e calculadoras. Não consegui um ângulo legal de lá. Mas tenho algumas lembranças - eu era muito pequenininha na época - daquele lugar que tinha uma papelaria (sempre fui fascinada por livros e assemelhados) e uma confeitaria ao lado. 

Lembro também do gelo que comprávamos na Tavares de Lira, nas imediações da Rua Chile, isso no quarteirão por trás de onde ficava a oficina de papai. 

Depois tudo seguiu para a Cidade Alta, onde meus avós moraram por quase toda sua vida. 

Enfim, não é à toa que levo a Ribeira e a Cidade Alta no mesmo lugarzinho reservado ao Mirassol no meu coração. Afinal, praticamente só saía deste para visitar aqueles.

Outra coisa interessantíssima na caminhada de ontem foi o destaque enfim dado a grandes mulheres que fizeram desta terra um lugar especial, como Clara Camarão, Nísia Floresta, Alzira Soriano, Celina Guimarães, para citar algumas.

Houve um concurso de 12 canções no fim da caminhada. Pena que não pude acompanhar tudo até o fim. Espero resolver isso no próximo ano.

O único senão que tenho é ao fato do professor Alexandre não aproximar o microfone da boca quando fala, o que me obriga a ter que seguir colada no trio (detesto!) para conseguir entender suas ótimas explicações. Menos mal que agora há um outro trio para replicar o som. Um patrocínio mais efetivo das empresas orgulhosamente potiguares poderia resolver isso com um trio elétrico à la Carnatal.

Por falar em patrocínio, parabéns ao Governo do Estado, à Prefeitura de Natal, à Arena das Dunas, à Unimed Natal, à Plano Incorporações e à Coca-Cola por investirem num evento que faz bem à alma dos natalenses e que atrai também turistas loucos por uma atividade cheia de energia boa. Ontem mesmo na subida da Junqueira Aires encontramos com um de Belo Horizonte que queria mais informações para saber se dava tempo de ir ao samba no Beco da Lama e se juntar à caminhada mesmo sem ter adquirido a camiseta anteriormente (2kg de alimentos). Claro que dava. E assim ele fez.

Abaixo, fotos que tirei pelo caminho dessa parte histórica do paraíso. Pena que o teatro esteja em reforma, mas é por uma boa causa.