Secretária do Estado americano durante a presidência de Bill Clinton, Madeleine Albright (primeira mulher a ocupar o cargo) esclareceu numa entrevista nas páginas amarelas de Veja (edição de 17/10/18) como a velha dialética hegeliana funciona na prática.
No caso, ela foi perguntada sobre a possibilidade do anseio por uma ditadura superar o amor pela democracia. Vale acompanhar a resposta, uma verdadeira lição.
Em tempos de crise, as pessoas tendem a prestigiar quem promete resolver tudo de um jeito simples e rápido. Fascistas como Mussolini e Hitler tiveram apoio amplo na sociedade e chegaram ao poder por vias constitucionais. Eles se aproveitaram de momentos de depressão econômica e insatisfação com o governo. Mas também tenho a crença de que, com o tempo, sob um regime ditatorial, essas mesmas pessoas ficam insatisfeitas quando percebem que o governo não as deixa fazer o que elas desejam. Em geral, os cidadãos querem poder tomar decisões sobre a própria vida. Mas a parte difícil é que, infelizmente, eles precisam viver a experiência de um governo autoritário para valorizar a liberdade de novo. Querem escolher onde vão morar, que língua ensinarão aos filhos e em qual escola eles estudarão. Para isso acontecer, é preciso poder tomar decisões sobre como a cidade e o estado são governados. O capítulo realmente triste, que acontece no Brasil, é que neste momento não há confiança nas instituições. Os brasileiros, assim como os americanos, estão desapontados. É nesse contexto que muitos pensam em optar por uma solução diferente, um atalho. Depois que perdem a liberdade e a independência, eles passam a almejar esses princípios novamente.